Com esta postagem, conforme outrora lhes prometi, darei prosseguimento à série de estudos bíblicos que fora iniciada na primeira postagem deste blog, publicada no dia 02 de Julho de 2010, onde propus a temática de que os cristãos devem andar como sábios. No entanto, neste escrito, esposarei algumas lições práticas que antes foram ensinadas por Cristo e através dEle (Ef 4.20,21), mas, agora, apresentadas pelo apóstolo Paulo na epístola aos Efésios com a propositura de ensinar os cristãos a andar diferente dos gentios.
I. COMO ANDAM OS GENTIOS
1. “na vaidade do seu sentido” (v.17). Deus nos chamou para que andássemos diferentes dos gentios, dos ímpios. Ao andar em vaidade o mundo anda em uma completa irrealidade. Estão voltados apenas para si, seus prazeres, e nada mais.
Vaidade (gr. “mataiotes”) significa “falta de propósito”, “vazio”, “futilidade”. Os seus pensamentos e intenções não passam de nulidade, porque se direcionam para longe de Deus (para a satisfação do maligno) e porque visam apenas seus próprios interesses. Deus nos livre de termos uma vida vazia assim. Deixemos Cristo encher nossa existência.
2. “entenebrecidos no entendimento” (v.17a). Embora às vezes brilhante em seu Quociente de Inteligência [QI] ou na aprendizagem, os ímpios permanecem sem o conhecimento de Deus. Na sua mente não há luz de sabedoria, pois o seu entendimento acerca das coisas divinas está obscurecido.
3. “separados da vida de Deus, pela dureza do seu coração” (v.17b). A razão de se afastarem conscientemente de Deus é a “dureza” (gr. “porosis”) do coração. “Poros” era “um tipo de mármore” ou, em termos médicos, um “calo” ou uma “formação óssea nas juntas”. Logo o verbo “poroum” significa “petrificar, tornar-se “duro”, “insensível” e (quando aplicado à vista) “cego”. A tradução para este texto poderia ser: “suas mentes se tornaram duras como pedra”. Os gentios possuem, assim, a insensibilidade para com as coisas espirituais, o que determina uma vida sem lugar para Deus ou para os valores morais.
4. “com avidez, cometem toda sorte de impureza” (v.19b). Quanto aos gentios ímpios, nada os refreia de satisfazer seu desejo imundo. Os incrédulos seguem sua marcha funesta “com avidez”, entregando-se às suas depravações com um zelo descontrolado. Eis o que tais homens fazem: mergulham na imoralidade sexual, se apegam cobiçosamente às riquezas, pisam sobre os direitos alheios, roubam aos fracos, corrompem aos inocentes, enganam aos simples e praticam a autoidolatria. Foi deste meio que Cristo nos tirou para a Sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9).
II. COMO DEVEM ANDAR OS CRISTÃOS
1. “despojando do velho homem” (v.22). Dos versículos 17 a 19 Paulo retrata o “velho homem”, de quem devemos nos “despojar” (gr. “apotéstai”), como retiramos velhas vestimentas, e nos vestimos de novas. Esta é a genuína conversão, genuíno novo nascimento, ou seja, repudiar o nosso próprio “eu” antigo, de nossas inclinações tremendas para o pecado, e voltar para o novo “eu”. A maneira de viver do velho homem é corrupta e corruptível. Todo cristão tem que abandonar seus antigos hábitos pecaminosos de antes de seu encontro com Cristo.
2. “renovando-se no espírito do sentido” (v.23). A melhor maneira de produzir este despojamento é através do nosso espírito interior, entregando-se ao Espírito Santo de Deus que é o responsável pela obra de transformação do nosso fútil pensamento anterior e nosso obscurecido intelecto, para que possamos ser envolvidos pela forma de pensar de Cristo. Aliás, o nosso pensamento deve estar focado “nas coisas que são de cima e não nas que são da terra” (Cl 3.2). Precisamos experimentar uma renovação que seja expressa por estas palavras: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8). Que mudança tremenda em relação aos ímpios...
3. “revestindo-se do novo homem” (v.24). Este novo homem é criado segundo Deus, ou seja, procede de Deus, através do Espírito Santo, pois sozinho o homem não consegue sua mudança interior. No princípio o homem foi feito à Sua imagem (Gn 1.27), e quando aquela imagem foi distorcida pelo pecado e a vida em comunhão com Deus se perdeu, houve em Cristo uma nova criação, uma restauração à imagem divina com todas as implicações daí decorrentes. Acima de tudo, a imagem de Deus se manifesta no caráter em justiça e santidade. O termo “justiça” se refere ao desempenho do homem de seus deveres para com os semelhantes, e “santidade”, à observação pelo homem de seu dever para com Deus. Se não veem estas qualidades, pelo menos em parte, é porque não há evidência de ter ocorrido realmente qualquer obra divina de recriação. Contudo, é importante observarmos que há somente contrastes entre o velho e o novo homem: corrupção e renovação, paixão e santidade, engano e verdade, impureza e limpeza. Sendo assim, “andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.4).
4. “deixando a mentira” (v.25). Os seguidores de Jesus devem ser conhecidos na comunidade onde vivem como pessoas honestas e fidedignas, em cuja palavra se pode confiar. A falsidade deve ser banida do meio do povo de Deus, onde a verdade deve ter livre acesso. “Mentira” (gr. “pseudos”) significa “qualquer tipo de falsidade, proferida ou vivida”. Uma vida cristã em que habite a mentira é “pseudo” vida cristã, é falsa, é enganosa. Podemos mentir tanto com os nossos lábios quanto com a conduta diária. Na verdade, quando os cristãos mentem, eles estão enganando uns aos outros e, por conseguinte, rompendo os laços de amor e comunhão a que foram trazidos, pois pertencem ao único corpo, mas individualmente são membros uns dos outros (Rm 12.5). De sorte que, devem ser totalmente honestos uns com os outros. Mentira é um grande obstáculo para o bom funcionamento do corpo. Quando os membros são francos e têm perfeita confiança uns nos outros, o corpo trabalhará em harmonia e, portanto, eficientemente. Não havendo franqueza e verdade, só pode haver desunião, desordem e problemas.
5. “sem ira pecaminosa” (v.26). Muitos interpretam a frase “irai-vos e não pequeis” (ARC) como um mandamento, ou como se Paulo estivesse encorajando uma ira justa. Mas, na verdade, existe uma advertência a respeito do pecado da ira (cf. 4.31). Ao que tudo indica, o pensamento de Paulo acerca da possibilidade de ficarmos irados é para tomarmos cuidado, pois quando a ira chega o pecado jaz à porta. Desta forma, Paulo coloca três restrições à ira: 1. “não pequeis” (indica que a ira leva facilmente a pecar em outras áreas tais como orgulho egoísta, maldade, vingança, ódio, violência e até mesmo assassinatos - cf. Mt 5.21,22); 2. “não se ponha o sol sobre a vossa ira” (sugere que se o ressentimento não for rapidamente sanado, a ira levará à amargura e à destruição dos relacionamentos); e, 3. “não deis lugar ao Diabo” (previne indiretamente que a ira pode facilmente abrir uma porta de oportunidade para o Diabo, dando-lhe lugar para operar. Todavia, há uma ira que é justa, tal como a que vemos em nosso Senhor (Mc 3.5; Jo 2.13-17), porém Sua ira nunca O levou a pecar, porque mantinha Suas emoções sob perfeito controle. O cristão deve estar certo de que sua ira provém de justa indignação, e que não exprime apenas provocação pessoal ou orgulho ferido. Não deve possuir motivos pecaminosos, nem permitir que o leve de qualquer ao pecado.
6. “sem furtar” (v.28). O 8º mandamento da lei é: “Não furtarás”. Esta lei tinha uma ampla aplicação: furto ou roubo do dinheiro de outras pessoas; sonegação de impostos e truques diversos; empregadores que furtam aos empregados o pagamento do que lhes é devido; e, empregados que furtam do patrão o trabalho, realizando serviço inferior e em horas subtraídas. Assim como naqueles dias, todas essas implicações ainda devem prevalecer sobre nossas vidas, já que somos nova criatura. E, quem furtava deve largar tal prática, e passar a trabalhar honestamente, para ter o seu sustento, e poder acudir aos necessitados, quando solicitado. Isto é cristianismo em prática!
7. “sem nenhuma palavra torpe” (v.29). “Torpe” (gr. “sapros”) é uma palavra que se empregava para peixes podres e frutos podres. A palavra “torpe” é a conversa podre, que espalha podridão, é como um mau fruto; e além de não ter valor algum ainda leva outros a pensarem naquilo que nenhum valor tem. Estas palavras baixas, chulas, contaminadas pelo jargão mundano, devem dar lugar a palavras que sejam “boas para a edificação”. Ainda devem ser palavras “conforme a necessidade”, ou seja, palavras adequadas para a ocasião. “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv 25.11). Assim como o “peixe podre” a palavra torpe cria um mal estar ao redor de quem a profere, e também exala péssimo odor.
8. “sem entristecer o Espírito Santo” (v.30). “Entristecer” (gr. “lupeõ”) é causar tristeza, dor, aflição. E como poderíamos fazer isso? Pela falta de santidade (uma vez que Ele é Santo), e pela falta de unidade (porque Ele é “um só Espírito” – Ef 2.18). O desprezar sentido pelo Espírito Santo de Deus ante as ações humanas erradas é representado pela tristeza aflitiva que os mesmos seres humanos experimentam. Lembremos ainda que este estado é progressivo, pois o Espírito Santo pode ainda ser “apagado” (1 Ts 5.19) e “retirado” (Sl 51.11; 1 Sm 16.14). Como novo homem devemos viver em harmonia e sintonia espiritual com o Espírito Santo, mas como: ouvindo-O, obedecendo-O, esperando nEle; e alegrando-nos nEle.
9. “longe da amargura e cólera” (v.31). Paulo dá uma lista de coisas que não devem nos acompanhar. Ei-las, segundo o sentido grego original:
a) amargura (gr. “pkiria”) – um espírito azedo, uma disposição dura, um espírito ressentido que recusa reconciliação;
b) cólera (gr. “thymos”) – uma fúria descontrolada, explosões de furor;
c) ira (gr. “orge”) – uma hostilidade constante, mais firmada e sombria;
d) gritaria (gr. “krauge”) – pessoas que erguem a voz, ficam altercadas, e começam a gritar, até mesmo a berrar, uma contra as outras;
e) blasfêmias (gr. “blasphemia) – falar mal dos outros, especialmente pelas costas, difamando e destruindo sua reputação;
f) malícia (gr. “kakia”) – má vontade, tramando e desejando o mal contra as pessoas.
Desta lista “terrível” devemos fugir, correr mesmo, espavorido de medo, de qualquer uma delas.
10. “perdoando-vos uns aos outros” (v.32). Paulo volta à característica predominante do cristão, e que o faz ser tão diferente dos gentios ímpios: a capacidade de suportar e de perdoar. “Perdoando-vos” (gr. “karizomenoi”) é agindo com graça uns para com os outros, assim como Deus em Cristo agiu com graça para conosco. É o amor na prática, é a disposição mental que faz com que pensemos nos interesses dos outros como se fossem nossos próprios. É tratar graciosamente uns aos outros (Cl 3.13). O exemplo e motivo supremos para tais atitudes estão em Cristo (2 Co 5.19). Devemos nos lembrar de que quem não está perdoando não pode receber o perdão de Deus (Mt 6.12,14; 18.21-35).
Conclusão: Meu desejo sincero é que esta postagem sirva para nos ajudar a andar diferente dos gentios, ao invés de ser mais uma lista de coisas a serem feitas. Que ela faça ao coração da família de Deus tão bem quanto fez ao meu!