“E sucedeu que nos dias em que os juízes julgavam, houve fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos. E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de seus dois filhos, Malome e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos campos de Moabe e ficaram ali. E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois filhos, os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era onome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos. E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido” (Rt 1.1-5)
I. Introdução
O livro de Rute, apesar de não ser tanto explorado pelos expoentes da Palavra de Deus - como muitos asseveram -, quando é descortinado pelos amantes, estudiosos e pesquisadores da Bíblia que a consideram o manual de fé, regra e prática de vida, encontra-se nele uma fonte de riquezas eternas, um manancial de águas vivas a fluir para a igreja contemporânea e a sociedade em geral, a fim de lhes suprir as necessidades existenciais, e transformar vidas ressequidas pelo pecado numa terra fértil que produz frutos dignos de arrependimento e que glorificam a Deus. Estas veracidades norteiam as pouquíssimas páginas do estimável livro bíblico em alusão, que, por seu turno, evidencia a providência de Deus pela manifestação da Sua graça restauradora na vida das pessoas e por meio delas, invalidando quaisquer que sejam seus antecedentes.
Acerca deste assunto, a biografia de Noemi e de Rute - eminentes personagens desse livro - é um exemplo cabal, pois contém uma autêntica e inteligível obra da graça divina. No entanto, na biografia de outros personagens bíblicos não é tão fácil perceber isso, haja vista ter de fazer um estudo acurado a respeito do personagem. Há diversos casos como tal nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, dentre os cinco últimos versículos aduzidos pelo aludido livro - de que tratam da genealogia de Perez (v. 18) -, o nome de Salmom (vv. 20,21) – nome que foi incutido na genealogia do Messias descrita por Mateus (Mt 1.5) e ratificado na árvore genealógica de Jesus Cristo elaborada por Lucas, onde o compilador colocou-lhe o nome de Salá (Lc 3.32) -, isto é, o filho Salmom (1 Cr 2.11), bem como a sua descendência, surgiram na História porque ambos foram beneficiados pela graça de Deus. Porém, isso está implícito no livro.
A graça do Senhor – a qual é suficiente para regenerar o homem - na vida de Salmom e da sua família tornar-se aclarada para nós quando depreendemos que este contraiu matrimônio com uma mulher que fora prostituta na cidade de Jericó, cujo nome era Raabe (Js 2.1; 6.22,23). Porém, indubitavelmente, o Senhor regenerou a vida de Raabe e deu-lhe Salmom por esposo, com quem procriou Boaz (Mt 1.5; cf. Rt 4.21), o qual "anos-luz" tornar-se-ia avô de Jessé e bisavô do rei Davi (Rt 4. 21,22).
Notemos que, nesses relatos bíblicos e, em todo o livro de Rute, tal como em outros, o Senhor, nosso Deus, deixa-nos uma lição: mediante Sua graça é possível resolver o que aparenta ser insolúvel na vida do ser humano. Além disso, com Sua ação antecipou-nos a assertiva que foi proferida séculos depois desses fatos, pela boca do apóstolo Paulo, que disse: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). Por assim dizer, o agente responsável por transformar nossas vidas ou tragédias que ocorrem no decurso da mesma é a graça de Deus, e através desta postagem veremos como a graça de Deus restaurou a vida de Noemi e Rute.
II. Contexto Histórico
É imprescindível mencionar que, os acontecimentos ora desenvolvidos no transcurso dessa estimável história bíblica estão intrisicamente relacionados ao período dos juízes, como afirma o próprio texto (Rt 1.1a). Entrementes, nenhum estudioso logrou êxito no que tange assegurar com exatidão a qual período dos juízes tais eventos aconteceram. Todas as pesquisas permanecem hipotéticas. Nesse período, a nação de Israel já estava devidamente instalada na Terra Prometida sob a forma de governo teocrático, ou seja, o próprio Deus governava o seu povo. Todavia, o período dos juízes nos seus quase 300 anos de duração, entre aproximadamente 1350 a 1050 a.C., fora caracterizado por episódios tétricos, tais como: apostasia nacional; declínio espiritual; servidão aos povos vizinhos; guerras civis intermitentes; e, uma anarquia exacerbada. Cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos (Jz 17.6). Essa situação levou os israelitas ao estado de putrefação espiritual, atraindo dessa feita o juízo divino sobre eles, que ficou vívido quando a fome lhes sobreveio anunciando uma calamitosa situação.
Diz-nos às Sagradas Escrituras que, ante a escassez de alimento que permeava a nação de Israel dizimando os moradores da terra, num determinado período da teocracia, o patrício Elimeleque - natural e residente da cidade de Belém de Judá, chefe de família, casado com Noemi, com quem teve dois filhos, dos quais, o primogênito chamava-se Malom e o mais moço chamava-se Quiliom - decidiu de forma deliberada sair de Belém de Judá e peregrinar nos campos de Moabe. Tal atitude, além de fomentar tragédias, revela-nos alguns aspectos negativos de sua conduta, que servem de exemplo para nós outros de como não devemos proceder quando estivermos sitiados pelas vicissitudes da vida, a saber:
Primeiro. Porque não compreendeu que a fome era uma ferramenta que Deus utilizava para corrigir e aproximar de Si o seu povo, Elimeleque precipitou-se nas suas decisões evocando para si o mal.
Quando estamos sob pressão, vivenciando momentos dificílimos, os quais, muitas vezes, Deus nos proporciona vivenciar - como fez com o Seu Filho Primogênito (Mt 4.1) -, a fim de aperfeiçoar algumas áreas da nossa vida, à princípio não entendemos o real propósito dos revés que vivemos. E, por esta razão, somos estimulados à precipitação, a qual corrobora para que tomemos atitudes que culminam em ruínas. Na verdade, quem se precipita peca (Pv 19.2) e o pecado produz ruínas (Rm 6.23). No entanto, a palavra do Senhor aconselha-nos a não sermos precipitados (Ec 5.2). Aliás, há diversos exemplos na bíblia de homens que se prejudicaram por causa da precipitação. A título de exemplo, Moisés é um deles, pois se precipitou ao fazer justiça com as próprias mãos (Ex 2.11-14). Sara, precipitou-se ao gerenciar o problema do seu jeito (Gn 16.2). O profeta Jonas precipitou-se ao fugir para Társis, pensando que iria conseguir fugir da face do Senhor (Jn 1.3).
Ora, diversas vezes sofremos prejuízos porque não compreendemos que algumas situações específicas são essências para forjar o nosso caráter. Porém, não queremos vivenciá-las. E, por isso, agimos precipitadamente. Mas, depois, ficamos a dizer: "quem dera se pudéssemos voltar atrás depois de empreendermos uma ação precipitada"! Mas, como não é possível... Ficamos apenas na vontade. Contudo, quem se precipita nas ações do dia a dia traz ruínas para si e provavelmente ocasionará problemas para outras pessoas. Então, evitemos à precipitação e, assim, estaremos evitando tragédias.
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